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Edição 2023

Edição 2023

27º FESCETE

EU NÃO ANDO SÓ

“Não mexe comigo que eu não ando só!” — a frase, cantada por Bethânia em música sua com Paulo César Pinheiro, corta o ar como flecha de Caboclo e ecoa um alerta a todo aquele que estiver ouvindo. “Eu não ando só” representa, ao mesmo tempo, uma advertência e uma constatação. É advertência porque conclama um acordo de defesa mútua entre seus companheiros, no maior estilo dumasiano “um por todos e todos por um”. É também uma constatação porque, ao se assumir como parte de um todo, o indivíduo se reconhece no outro, enxerga esse outro como seu semelhante e compartilha seu andar, o seu caminhar. O indivíduo passa a ser coletivo. O FESCETE 27 homenageia essa força comunitária tão importante no teatro: os coletivos.

Todo estudante de teatro ou espectador mais atento já deve ter escutado o importante jargão: teatro é, em sua essência, uma arte coletiva. Isso se deve ao fato de que, por mais reduzido que seja o espetáculo, é necessária a presença de outros profissionais para dar forma ao trabalho. Um monólogo, por exemplo, mesmo tendo uma única pessoa em cena, exige alguém para fazer a direção, a iluminação, o cenário, o figurino, a sonoplastia, o texto, a preparação corporal etc. Mas a homenagem do FESCETE não é apenas à reunião de trabalhadores necessários a uma cena, pois essa reunião muitas vezes pode se dar de forma única e oportuna, variando as pessoas conforme as condições financeiras do projeto. A homenagem do FESCETE é aos grupos teatrais, esses coletivos que se formam não apenas pela necessidade prática de um trabalho, mas também por um desejo de estar junto com seus pares, mantendo a convivência com o mesmo núcleo de artistas, dividindo os momentos de conquistas e de dificuldades no dia a dia da construção da arte. 

O FESCETE É MEU, É SEU, É NOSSO!

Karla Lacerda, Júlia Norato e Pedro Norato.

Homenagem

Teatro Oficina Uzyna Uzona

O Teatro Oficina Uzyna Uzona hoje representa a resistência do fazer teatral coletivo, aglutinando gerações em uma grande ciranda, na qual artistas e público dão as mãos e bailam em torno de uma celebração em comum: o teatro. Liderado por Zé Celso Martinez Corrêa, o Teatro Oficina está em atividade há 65 anos. Ao longo desse mais de meio século, o grupo passou por profissionalização, aquisição da sede, incêndio, ditadura militar, censura, exílio, retomada das atividades, reformas, recessão, inflação, conflitos judiciais, críticas, elogios, exaltação, desconfiança e tantos outros capítulos dessa jornada. Mas acima de tudo, sua história é um reflexo do teatro brasileiro. Tal como Alice, mergulhamos nesse espelho e nos permitimos ser conduzidos a um mundo de maravilhas, um mundo de sertões brasileiros, de Grécia Antiga, de uma Itália renascentista, de Cacilda, de Godot, de Abelardo, de Benedito, onde estão misturadas as mais diversas referências, criando uma obra única. Única, pluriétnica, multicultural e tropical, como é o nosso povo e nosso país. Sobreviver juntos durante todo esse tempo é o grande desafio que todo coletivo de teatro tenta encarar. O Teatro Oficina é inspiração para todos os grupos que vieram depois dele. É mãe e pai de vários filhos Brasil afora, parindo a possibilidade da longeva existência por meio da arte.

Um grupo teatral tem, dentro de si, a fusão da dinâmica familiar e da dinâmica profissional. O carinho, as desilusões, os sucessos, as dívidas, amizades que se estabelecem, casais que se unem, o teatro que é casa, a cozinha que é sala de reunião, gente que chega e gente que se despede, mas, acima de tudo, gente que se dedica para dar vida a um espetáculo. O teatro, para um coletivo, não é apenas um fim, mas também um meio; é destino e, simultaneamente, estrada pela qual caminhamos juntos. Quem anda, vai em direção a um lugar. Quem não anda só, caminha o mesmo caminhar, sonha o mesmo sonho, partilha da mesma jornada e luta da mesma luta. 

Não mexe comigo que eu não ando só 

Que eu não ando só 

Eu não ando só 

Não mexe não.

Homenagem

Arte 2023

A arte foi criada depois de uma boa conversa , a ideia do coletivo, que prefiro chamar de coral, se estendeu dos grupos teatrais pra uma ligação cosmológica. Tendo Zé, exú das artes cênicas como um grande xamã que faz a cabeça e a gira acontecer há 86 anos! Ali nessa roda imaginaria ou não as entidades estão entrelaçadas….Do feto a fera, da cobra ao SUS. Tudo está interligado… Não andamos sós….somos o cosmo. Zé é o cosmo.

Arte: Sylvia Prado

Foto: Jeniffer